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Revista de Haicai - Editores: Chris Herrmann e Jiddu Saldanha
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quinta-feira, 15 de julho de 2010



Flavio Machado pergunta e o Haicaísta Celso Pestana responde


Nascido em Marechal Hermes subúrbio do Rio de Janeiro, em 04 de Fevereiro de 1959. Poeta suburbano, as primeiras experiências foram com teatro de bonecos no quintal de casa, em Oswaldo Cruz. Durante a adolescência começou a participação em festivais de música, o primeiro prêmio um terceiro lugar em 1976.
No início dos anos 80 a teve participação ativo nos movimentos literários. Participou de várias Antologias, entre elas: Cem poemas brasileiros e Veia Poética. Venceu alguns concursos de poesia. Publicou em vários suplementos e sites literários. Publicou o livro Sala de Espera em 2003, premiado pela Editora Blocos.

FLAVIO MACHADO: Tenho observado em vários autores brasileiros, o uso de pontuação no meio dos versos, essa prática é aceitável na adaptação do Hai Cai para o Brasil?

CELSO PESTANA: Os japoneses não usam pontuação como nós. Acho que é a isso que o Flávio se refere. Japonês pra mim é grego, e não deveria dar pitaco nesse assunto, mas acho que como o haicai brasileiro deve ser escrito em português, o que é próprio do português não deve causar estranheza no haicai brasileiro. A questão da vírgula no meio dos versos num haicai tupiniquim é a mesma de outros poemas: ela está bem colocada? Ela compromete o ritmo?

Vejam, por exemplo, como Edson Kenji Iura (http://www.kakinet.com) traduz alguns poemas de seus ancestrais:

meshidoki ya toguchi ni aki no irihi kage

Hora do almoço.
Pela porta, com os raios de sol,
As sombras do outono.

Chora

mono no oto hitori taururu kakashi kana

Algo faz barulho —
Cai sozinho, sem ajuda,
O espantalho.

Bonchô

Já a poeta Alice Ruiz gosta, talvez, de puxar os olhos de seus haicais, ocultando – e não suprimindo - toda e qualquer pontuação, o que também me parece interessante:

minha casa
o sapo já sabe
entrar e sair

amigo grilo
sua vida foi curta
minha noite vai ser longa


FLAVIO MACHADO: Outra prática e dar emoções “humanas” nos versos relacionados a animais e plantas?

CELSO PESTANA: Sei que o exemplo é infantil, mas um bom haicaista não diz que o cravo brigou com a rosa debaixo de uma sacada, etc. Também evita dizer que uma determinada árvore da Amazônia está deprimida com o desmatamento, ou que um passarinho está contente porque a manhã é de sol.

Aliás, um bom haicaista evita dar emoções em qualquer caso. O que ele faz é mostrar uma cena de tal jeito – e nesse tal jeito é que mora o busílis da arte – que desperte sentimentos no leitor, sem falar ou descrever o sentimento. Essa, me parece, é a principal característica do poemeto japonês. E a de mais difícil aceitação entre nós.

FLAVIO MACHADO: Podemos afirmar atualmente a existência de um modelo de Hai Cai brasileiro com regras básicas derivadas da tradição japonesa?

CELSO PESTANA: Sim, acho que se pode falar em “modelos” assim, apesar das diferenças entre eles. O Grêmio Ipê, presidido pelo já citado Edson – não se enganem com o sobrenome japonês -, é um deles. Outro é o da obra de Alice Ruiz, especialmente nos tercetos que ela assina com o seu nome de haicaista: Yukka.

Mas, se não se segue pelo menos as regras básicas da tradição japonesa qual o sentido de dizer que um poema é haicai? Costumo dizer que haicai brasileiro deve ser brasileiro e deve ser haicai.
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Um comentário:

  1. Muito obrigado pelas respostas, foram esclarecedoras, a gente tem que divulgar o blog, para ter mais visitas, pela qualidade do blog. Valeu

    abs
    Flávio Machado

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