- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Revista de Haicai - Editores: Chris Herrmann e Jiddu Saldanha
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

domingo, 18 de julho de 2010




Haicais têm o "Rumor das Ondas"
por José Marins

Benedita Azevedo lança mais um livro de haicais realizados a partir de suas vivências na Praia do Anil, onde reside em Magé-RJ. São 99 poemas no estilo clássico que nos aproximam da natureza, dialogam com o leitor numa linguagem simples, mostrando imagens que passariam despercebidas não fosse a percepção treinada da autora e sua fina sensibilidade poética. Afinal a poética do haicai é a da observação, dos sentidos e das sensações que captam a diversidade natural e as manifestações humanas de nosso povo.

Na apresentação escreve a haicaísta Rosa Clement: “É um nome muito apropriado para quem mora perto do mar, e tem o privilégio de sentir a brisa e ouvir com frequência o rumor das ondas, como é o caso da autora. Rumor das Ondas é, portanto, um livro que oferece uma variedade de matizes e formas de paisagens e atividades humanas. É um esforço recompensado e um merecimento.”

Ler mais esse livro de Benedita Azevedo é um privilégio e um prazer para quem ama a poesia do haicai.


Eis alguns dos poemas do livro:

Quietude na praia –
Só a aragem da manhã
E o rumor das ondas.

Ao sol da manhã
Reflexos brilham no pasto –
Noite de geada.

Cintilando ao sol
As bolhas de sabão
Caem na varanda.

Ao romper da aurora
Suave perfume no ar –
Outra vez setembro.


Para adquirir o livro Rumor das Ondas, entre em contato:
benesazevedo@yahoo.com.br

.

quinta-feira, 15 de julho de 2010



SILVIO GARGANO JUNIOR
Silvio Gargano Junior nasceu em 1963 em São Paulo (SP), mas desde 1982, transita pelo interior paulista. Formado em Letras pela FAFITU e em Pedagogia pela CEUCLAR, já trabalhou como bancário, assistente de RH, comerciante e desde fevereiro/92 dedica-se ao magistério público. Atualmente leciona Língua Portuguesa e Literatura nas EE Antônio Augusto Lopes de Oliveira Júnior e ETEC Antônio de Pádua Cardoso, em Batatais(SP). Participou da antologia lançada pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores e do livro Mosaico das Letras, publicado pela AFPESP. Obteve o 3º lugar no Concurso de Haicais no 19º Encontro Brasileiro de Haicai em 2007; Menção Honrosa em 2000 na Etapa Regional do Mapa Cultural Paulista, na categoria contos e o 5º lugar no Concurso de Haicais Massuda Goga em 2008. Participa regularmente do grupo literário Haikai-L com vários haicais publicados no jornal Nippo Brasil. Teve vários poemas publicados na revista Nikkei Bungaku.




[clique nas imagens para vê-las em tamanho natural]


[para assistir este vídeo no nosso canal no YouTube clique aqui]



Flavio Machado pergunta e o Haicaísta Celso Pestana responde


Nascido em Marechal Hermes subúrbio do Rio de Janeiro, em 04 de Fevereiro de 1959. Poeta suburbano, as primeiras experiências foram com teatro de bonecos no quintal de casa, em Oswaldo Cruz. Durante a adolescência começou a participação em festivais de música, o primeiro prêmio um terceiro lugar em 1976.
No início dos anos 80 a teve participação ativo nos movimentos literários. Participou de várias Antologias, entre elas: Cem poemas brasileiros e Veia Poética. Venceu alguns concursos de poesia. Publicou em vários suplementos e sites literários. Publicou o livro Sala de Espera em 2003, premiado pela Editora Blocos.

FLAVIO MACHADO: Tenho observado em vários autores brasileiros, o uso de pontuação no meio dos versos, essa prática é aceitável na adaptação do Hai Cai para o Brasil?

CELSO PESTANA: Os japoneses não usam pontuação como nós. Acho que é a isso que o Flávio se refere. Japonês pra mim é grego, e não deveria dar pitaco nesse assunto, mas acho que como o haicai brasileiro deve ser escrito em português, o que é próprio do português não deve causar estranheza no haicai brasileiro. A questão da vírgula no meio dos versos num haicai tupiniquim é a mesma de outros poemas: ela está bem colocada? Ela compromete o ritmo?

Vejam, por exemplo, como Edson Kenji Iura (http://www.kakinet.com) traduz alguns poemas de seus ancestrais:

meshidoki ya toguchi ni aki no irihi kage

Hora do almoço.
Pela porta, com os raios de sol,
As sombras do outono.

Chora

mono no oto hitori taururu kakashi kana

Algo faz barulho —
Cai sozinho, sem ajuda,
O espantalho.

Bonchô

Já a poeta Alice Ruiz gosta, talvez, de puxar os olhos de seus haicais, ocultando – e não suprimindo - toda e qualquer pontuação, o que também me parece interessante:

minha casa
o sapo já sabe
entrar e sair

amigo grilo
sua vida foi curta
minha noite vai ser longa


FLAVIO MACHADO: Outra prática e dar emoções “humanas” nos versos relacionados a animais e plantas?

CELSO PESTANA: Sei que o exemplo é infantil, mas um bom haicaista não diz que o cravo brigou com a rosa debaixo de uma sacada, etc. Também evita dizer que uma determinada árvore da Amazônia está deprimida com o desmatamento, ou que um passarinho está contente porque a manhã é de sol.

Aliás, um bom haicaista evita dar emoções em qualquer caso. O que ele faz é mostrar uma cena de tal jeito – e nesse tal jeito é que mora o busílis da arte – que desperte sentimentos no leitor, sem falar ou descrever o sentimento. Essa, me parece, é a principal característica do poemeto japonês. E a de mais difícil aceitação entre nós.

FLAVIO MACHADO: Podemos afirmar atualmente a existência de um modelo de Hai Cai brasileiro com regras básicas derivadas da tradição japonesa?

CELSO PESTANA: Sim, acho que se pode falar em “modelos” assim, apesar das diferenças entre eles. O Grêmio Ipê, presidido pelo já citado Edson – não se enganem com o sobrenome japonês -, é um deles. Outro é o da obra de Alice Ruiz, especialmente nos tercetos que ela assina com o seu nome de haicaista: Yukka.

Mas, se não se segue pelo menos as regras básicas da tradição japonesa qual o sentido de dizer que um poema é haicai? Costumo dizer que haicai brasileiro deve ser brasileiro e deve ser haicai.
.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Deitando a amarra

por Douglas Eden, Guin ga

Geralmente, ao findarmos algum trabalho, resta algum material que não foi aplicado. Alguns o doam, ou jogam fora, por falta de espaço ou de imaginação; outros o guardam para utilização futura.

O mesmo ocorre na criação do haicai, ou no desenvolvolver do kasen: alguns versos imperfeitos, ou desprovidos de kigô; outros não apropriados ao estágio em que se desenvolve o kasen, ou mal sintonizados à estação do ano determinada, têm como destino o cesto do lixo.

Haicai e Kasen são gêneros poéticos aparentados entre si Pode-se dizer que o haicai que conhecemos hoje seja um subproduto do Kasen. Kigô é um termo da Natureza que se refere à estação do ano em que estamos escrevendo o haicai. Pode ser uma flor, uma planta, uma atividade humana própria da estação do ano em que se está, ao escrever o haicai.

Goga dizia que o haicai pertence ao momento em que o sentimento é expresso ao aflorar de uma sensação. A expressão desse sentimento emoldura-se nos três versos da tradição do haicai no Ocidente, ou nos 17 sons da tradição japonesa. Mas Goga dizia mais: dizia que passado esse momento ao qual o haicai é pertinente, o tanzaku torna-se um papelzinho inútil (tanzaku é o papel em que se escreve o haikai). Mas tão inútil como aqueles que os samurais enviados às côrtes dos reis de Espanha e ao Vaticano jogavam no lixo, após limparem o nariz, na valeta central das acanhadas ruas medievais, para espanto e curiosidade dos citadinos europeus do pós-Renascimento.

Não discordando da essência desse ponto de vista de nosso Mestre, dado o pesado lastro cultural em que se apoia, mas sinto de modo diferente: vejo beleza também nas pontas, nas aparas, limalhas e outrs sobras de algum trabalho, físico, material ou intelectual.

Dizem os cristãos que Deus, ao terminar a construção do mundo, colocou no Maine - pequeno estado à Nordeste dos EUA, lindeiro ao Atlântico Norte - as sobras do material que Ele usou.

O litoral do Maine e dos estados ao sul, até o Cabo Cod, é um dos mais pitorescos do mundo. Da pequena Nantucket partiam, no séulo XIX, os navios de caça à baleia, em longínquos Cruzeiros que abrangiam as mais altas latitudes alcançadas pelo Atlântico e pelo Pacífico. Demandando o norte deste último, alcançaram o Japão, em busca de pontos de apoio para abastecimento e reparos. Foram as necessidades destes pequenos navios, na passagem da navegação à vela para a navegaçãoa vapor, que forçaram a abertura do Japão para as nações do Ocidente, concretizada pelo Comodoro Perry com seus "navios negros". Após ela, caiu o último xogum Tokugawa, e restaurou-se o poder do Imperador, que comprendeu a conveniência em adaptar aos novos tempos. Instituiu a educação pública e o serviço militar obrigatórios. Modernizou a indústria e os transportes, e dotou seu Exército e sua Marinha de navios e armamentos produzidos no próprio país. Uma pequena fração dessa História foi mostrada no filme "O último samurai".

Abaixo, vou largando a amarra, por seções:

Seção 1:

O velho gaucho

devagar, remenda o poncho...
Sopra o minuano.

Um zunido entre os galhos
das árvores desfolhadas...

O homem curvado
passa lento, tendo à brida
um cavalo baio ...

Seção 2:

(Festival das Flores, comemorado
Manhã do Hanamatsuri -- ... na primavera, na Liberdade)
o monge , alegre , sorri ...

Abrindo o desfile
um grupo de escoteiros
puxa o elefante branco...

As poucas nuvens de chuva
se dispersam pelo céu ...

Seção 3:

Noite paulistana - -
Na Vinte-e-Três de Maio
os fluxos vermelho e branco.

Bem debaixo do viaduto
um grupinho bebe pinga.

Na festa do Ivan
dança-se até as cinco horas...
Vizinhos reclamam.

Seção 4:

O tempo esfriou muito súbito:
quase tive um choque térmico!

Seus braços morenos,
seus longos cabelos negros
envolvem-me em sonhos...

No dia seguinte, a manchete:
Apanhou da Namorada!

Guin Ga

A amarra é uma extensão de corrente bem grossa e pesada, dividida em seções de cores diferentes, que faz a âncora fixar-se ao fundo do mar com segurança, evitando que o navio seja levado pelas ondas ou por alguma correnteza, à matroca.

.