
Tchello d´Barros
Não dá pra dizer exatamente quando a arte entrou em minha vida, ou se era um brinde que já veio no pacote. Lembro-me que aos cinco anos já desenhava no assoalho da casa e aos seis, na escola, declamei uma quadra, que meu avô materno me ensinou. A fotografia veio mais tarde, no início da década de 90, quando fazia teatro e comecei a publicar os primeiros versos. O que lembro de fato é que quando o haicai entrou em minha produção literária, nunca mais saiu, digamos assim. Creio que os poetas que entram no universo do haicai nunca mais são os mesmos, pois não se trata de aprender mais uma técnica ou métrica e sim de desenvolver outra percepção para nossas possíveis leituras do mundo, do homem, da realidade.
A fotografia em meu caso veio posteriormente a minha formação em artes visuais, tanto é que sempre imagino que não fotografo como um fotógrafo convencional, mas como um pintor, pois valho-me dos recursos clássicos da pintura, tais como a perspectiva, a luz-e-sombra, o equilíbrio cromático, a valorização da anatomia e principalmente os recursos de composição, usados pelos velhos mestres do Renascimento. Até aí, nada de novo sob o Sol, mas quando se é alguém que se expressa tanto com a palavra quanto com a imagem, é inevitável e até produtivo que ambos os caminhos se cruzem, se fundam se confundam... Nunca é demais lembrar que o próprio poeta Matsuo Bashô, que popularizou o haicai no Japão setecentista, ao final da vida dedicou grande parte de seu tempo ao estudo da pintura também.
Mas eis que um dia conheci o haicai e adentrando em seu universo de kigôs, tankas, rengas, haibuns e haigas, foi até natural que parte de minha produção adquirisse elementos do haicai, como a simplicidade, a síntese e condição de comunicar o apenas o necessário com os recursos disponíveis. Talvez o rigor seja a maior lição apreendida. Um rigor que em meu caso, migrou para o desenho, as gravuras e também para minha produção fotográfica. Isso ficou mais evidente ainda quando em 2.000 d.C. lancei Olho Zen, meu livro de haicais.
violetas azuis
esta tarde não passou
em brancas nuvens
Haicai de Tchello d’Barros, de 1.999 publicado em seu livro de haicais “Olho Zen” (Ed. Multi-prisma – Blumenau-SC – 2000 d. C.)
neve na cidade
miava o gato branco
e ninguém o via
Haicai de Tchello d’Barros, de 2.009 publicado no blog Haigatos, editado por Jiddu Saldanha
Aqui no ocidente, esse poemeto de origem nipônica medieval sempre suscitará acaloradas discussões, por questões, principalmente por questões de métrica e estilo. Uma de minhas controvérsias preferidas é exatamente a relação entre haicai e fotografia, já que pratico ambos, pois há sempre quem defina o haicai como a eternização de um momento, tal qual uma fotografia. Atualmente posso afirmar que há muito de haicai em minha obra fotográfica e vice-versa.
Não bastasse tudo isso, a gente vai atravessando o rio da vida e encontrando nossos pares, outros apaixonados por essas questões, como os artistas multimídia Chris Herrmann (poesia, letras de música, piano, arte digital) e Jiddu Saldanha (poesia, pintura, mímica, fotografia, vídeo). São parceiros queridos com os quais temos realizado algumas produções, inclusive os vídeo-haigas editados por Jiddu, com a sublime música composta e executada por Chris, cuja virtuose ao piano integra plenamente os haicais e fotos desse projeto. Na pós-modenidade em que vivemos, as fronteiras das linguagens artísticas estão mais livres e nesse sentido creio que esses vídeo-haigas são experimentações intersemióticas ou haigas verbi-voco-visuais, pois o trabalho é percebido mediante o sentido do texto, a imagem da fotografia e o som da música.
Não dá pra dizer exatamente quando a arte entrou em minha vida, ou se era um brinde que já veio no pacote. Lembro-me que aos cinco anos já desenhava no assoalho da casa e aos seis, na escola, declamei uma quadra, que meu avô materno me ensinou. A fotografia veio mais tarde, no início da década de 90, quando fazia teatro e comecei a publicar os primeiros versos. O que lembro de fato é que quando o haicai entrou em minha produção literária, nunca mais saiu, digamos assim. Creio que os poetas que entram no universo do haicai nunca mais são os mesmos, pois não se trata de aprender mais uma técnica ou métrica e sim de desenvolver outra percepção para nossas possíveis leituras do mundo, do homem, da realidade.
A fotografia em meu caso veio posteriormente a minha formação em artes visuais, tanto é que sempre imagino que não fotografo como um fotógrafo convencional, mas como um pintor, pois valho-me dos recursos clássicos da pintura, tais como a perspectiva, a luz-e-sombra, o equilíbrio cromático, a valorização da anatomia e principalmente os recursos de composição, usados pelos velhos mestres do Renascimento. Até aí, nada de novo sob o Sol, mas quando se é alguém que se expressa tanto com a palavra quanto com a imagem, é inevitável e até produtivo que ambos os caminhos se cruzem, se fundam se confundam... Nunca é demais lembrar que o próprio poeta Matsuo Bashô, que popularizou o haicai no Japão setecentista, ao final da vida dedicou grande parte de seu tempo ao estudo da pintura também.
Mas eis que um dia conheci o haicai e adentrando em seu universo de kigôs, tankas, rengas, haibuns e haigas, foi até natural que parte de minha produção adquirisse elementos do haicai, como a simplicidade, a síntese e condição de comunicar o apenas o necessário com os recursos disponíveis. Talvez o rigor seja a maior lição apreendida. Um rigor que em meu caso, migrou para o desenho, as gravuras e também para minha produção fotográfica. Isso ficou mais evidente ainda quando em 2.000 d.C. lancei Olho Zen, meu livro de haicais.
violetas azuis
esta tarde não passou
em brancas nuvens
Haicai de Tchello d’Barros, de 1.999 publicado em seu livro de haicais “Olho Zen” (Ed. Multi-prisma – Blumenau-SC – 2000 d. C.)
neve na cidade
miava o gato branco
e ninguém o via
Haicai de Tchello d’Barros, de 2.009 publicado no blog Haigatos, editado por Jiddu Saldanha
Aqui no ocidente, esse poemeto de origem nipônica medieval sempre suscitará acaloradas discussões, por questões, principalmente por questões de métrica e estilo. Uma de minhas controvérsias preferidas é exatamente a relação entre haicai e fotografia, já que pratico ambos, pois há sempre quem defina o haicai como a eternização de um momento, tal qual uma fotografia. Atualmente posso afirmar que há muito de haicai em minha obra fotográfica e vice-versa.
Não bastasse tudo isso, a gente vai atravessando o rio da vida e encontrando nossos pares, outros apaixonados por essas questões, como os artistas multimídia Chris Herrmann (poesia, letras de música, piano, arte digital) e Jiddu Saldanha (poesia, pintura, mímica, fotografia, vídeo). São parceiros queridos com os quais temos realizado algumas produções, inclusive os vídeo-haigas editados por Jiddu, com a sublime música composta e executada por Chris, cuja virtuose ao piano integra plenamente os haicais e fotos desse projeto. Na pós-modenidade em que vivemos, as fronteiras das linguagens artísticas estão mais livres e nesse sentido creio que esses vídeo-haigas são experimentações intersemióticas ou haigas verbi-voco-visuais, pois o trabalho é percebido mediante o sentido do texto, a imagem da fotografia e o som da música.
E assim seguimos adiante, como nas peregrinações de Bashô, deixando como rastro as possíveis emoções estéticas derivadas de nossa produção escrita, visual, musical e até mesmo digital. Evoé!
Tchello d’Barros
www.tchello.art.br
Junho de 2010 – Belém/PA.
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