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Revista de Haicai - Editores: Chris Herrmann e Jiddu Saldanha
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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Os Passos do Tanka
por Rosa Clement

História

Tanka, é um termo de origem japonesa que significa "poema pequeno e elegante". Evoluiu a partir do waka, um tipo de poesia japonesa, escrito por nobres e aristocratas da corte Heian centrada em Kyoto durante o século XII. O waka refletia os tempos, lugares, pessoas, sociedades e vidas dos seus autores. No incio de 1900, o waka passou a ser chamado de tanka por reformadores como Tekkan Yosano, Yosano Akiko, Masaoka Shiki, e outros, sendo tanka, portanto, um termo relativamente novo. Conhecido como waka até aquele período, foi a forma de poesia do Japão praticada por mil anos e ainda hoje é bastante popular. O tanka foi uma das principais formas usadas para transmitir mensagens de amor, desejo e gratidão de um amante para outro.

Os primeiros tanka foram publicados no século oito, A.D., na Antologia Manyoshu, a primeira grande antologia de poesia japonesa, e em seguida na antologia Kokinshu, publicada no século 10, usando estruturas muito popular na época. Aqui está um exemplo (versão traduzida por mim) por Kakinomoto Hitomaro, o mais famoso poeta do Manyoshu, mostrada na estrutura que conhecemos:

the autumn wind
has become cooler now;
horses abreast
let´s go to the meadow
to see the hagi blooms

o vento de outono
tornou-se mais frio agora;
cavalos lado a lado
vamos para o campo
olhar as flores de hagi (um pequeno tubérculo com flores pequenas e rosadas)

Masaoka Shiki tentou modernizar o tanka também assim como fez com o haiku, isto é, preferia escrevê-las de forma mais simples e menos romântica do que os tankas do Manyoshu. Inclusive, ele deu um título a este poema, coisa que nunca foi necessária no tanka.

The Tea

crowding night
weary with the work
of writing things
blew the fire to life
and drank some tea

O Chá

passando a noite
cansado com o trabalho
de escrever coisas
soprei o fogo para a vida

e bebi um pouco de chá

Yosano Akiko, uma das grandes expressões do período romântico na virada do século, não hesitou em quebrar o tabu ao escrever poemas mais sensuais:

You have yet to touch
This soft flesh,
This throbbing blood --
Are you not lonely,
Expounder of the Way?

Você precisa tocar
Esta carne macia,
Este sangue pulsando --
Você não está só,
Expositor do Caminho?

No ocidente há diversos escritores de tanka, entre eles, destacamos o grupo americano que pratica o tanka há alguns anos. Aqui está um tanka de um de seus principais praticantes Michael McClintock:

leading my horse
to the river at midnight
scattered stars
in such impossible numbers
we don't mind drinking a few

levando o meu cavalo
para o rio à meia-noite
estrelas espalhadas
com tais números impossíveis
não importa se bebemos um pouco

Enfim, há muitos escritores de tanka que deixamos de mencionar.


Definição

Tanka é um poema composto de cinco linhas, geralmente sem rima. A forma mais frequentemente citada é com 5, 7, 5, 7, 7 sílabas em cada linha, resultando em um comprimento total de 31 sílabas para o poema. Alguns seguem essa forma estritamente. A forma mais solta do tanka é o truncamento do comprimento de 31 sílabas de modo que uma, várias ou todas as cinco linhas são mais curtos do que os seus comprimentos formalmente prescritos. É essencial que as cinco frases sejam coerentes, não apenas uma lista e integradas em um poema unificado. A quinta linha deve ser a mais forte.


Conteúdo

Tanka difere de outros gêneros da poesia japonesa tanto em forma como em conteúdo. Pode ser um poema lírico já que foi a forma para expressar não somente louvor sobre amor impossível entre os amantes, mas também perda, saudade, e aspectos semelhantes da nossa vida emocional. Pode fazer uma ligação entre alguns aspecto da natureza e alguns aspectos da vivência humana, geralmente, as emoções. O assunto ou estilo de tanka não precisa ser limitado a esses. Muitos estilos e temas ainda não foram explorados em tanka, mas deveriam ser. Um exemplo é a crítica social que certamente pode funcionar muito bem sob a forma tanka.

Como o haiku, o tanka não tem título, rimas no final da linha, palavras capitalizadas, ponto final e faz uso de pouca pontuação. Pode ter mas não é necesssário: linha pivô ou zeugma, mudança de visão durante o poema, pausa após qualquer linha, encadeamento (emjambment), analogia entre natureza e natureza humana, metáforas, símiles, personificações e pode ainda contar apenas o meio de uma história, não a história completa. A maioria dos tanka é escrita na primeira pessoa.

Um tanka pode ser escrito basicamente como um haiku para as linhas 1, 2, 3, que trata de um assunto natural e, em seguida, mais duas linhas que pode lidar com uma experiência humana de forma que tenha ressonância metafórica, simbólica, ou outra com o haiku.

Linha pivô ou zeugma, geralmente a linha 3, é uma característica do tanka que pode estar ou não presente. A linha pivô pode ser lida com a linha 1 e 2 , e também com as linhas 4 e 5, uma propriedade que pode ser usada para introduzir ambigüidade e ressonância no poema.


Conclusão

Escrever tanka não é somente colocar juntos dois haiku. Tanka é um tipo de poesia própria para expressar não apenas os sentimentos de amor, mas também outros sentimentos como você mesmo pode descobrir. No tanka há uma troca de tempo, pessoa, voz, etc. com a finalide de criar uma nova relação.

O texto acima é uma breve introdução ao tanka e como tal, oferece apenas um apanhado geral para quem deseja começar a escrever tanka de imediato. No entanto, há muito mais para conhecer, aprender e praticar.


Bibliografia


* Garrison, Denis M.. Tanka Teachers Guide. USA.2007. ww.modernenglishtankapress.com
* Higginson, William. J. The Haiku Handbook. Kodansha International. 1985.
* Reichhold, Jane. Writing and Enjoying Haiku : A Hands-on Guide. US: Oxford
University Press, 2002.

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